Foto por Alfons Morales, via Unsplash.
Como um romance, de Daniel Pennac, é um ensaio revelador sobre a maneira com que nos relacionamos com os livros. Em sua obra, o autor nos mostra o envolvimento dos pais no processo de contar história, dos professores ao impor leituras e da influência da tecnologia na escolha - ou não - do ato de ler.
De uma forma simples, somos levados a refletir sobre o papel da literatura como presente que nos é contado pelos pais, não como imposição e algo solitário. Pennac defende que isso se perde quando a criança é alfabetizada e, em consequência, "abandonada" à sorte da própria leitura, situação que piora quando a escola entra em ação por meio de um sistema de perguntas e respostas sobre determinada obra.
De maneira bem-humorada, o autor nos lista os 10 direitos imprescritÃveis do leitor: o direito de não ler; de pular páginas; de não terminar um livro; de reler; de ler qualquer coisa; ao bovarismo; de ler em qualquer lugar; de ler uma frase aqui e outra ali; de ler em voz alta; de calar. Com isso, ele traz por terra qualquer ensinamento construÃdo e constituÃdo como máxima pelo consciente coletivo sobre o que é ser um bom leitor. O que nos traz um certo alÃvio de não ter que carregar uma leitura nas costas sempre que a começamos.
Dividindo-se entre lirismo, ironia e reflexão sobre o seu próprio trabalho, Pennac apresenta suas experiências como professor de literatura (e, portanto, de leitura) e nos faz refletir - de uma forma bem didática - que o problema da falta de interesse pelos livros não é apenas algo brasileiro. As situações por ele trazida são universais e, é praticamente impossÃvel, que nós, leitores, não nos identifiquemos em algum momento. Fora todas as referências literárias, que torna a leitura um caso à parte, e que nos leva a devorar o seu ensaio até o último ponto final.
Livro: Como um romance
TÃtulo original: Comme un roman
Autor: Daniel Pennac
Tradução: Leny Werneck
Editora: Rocco | LP&M Pocket
Sinopse: Do alto de sua experiência de professor, num estilo a um só tempo irônico e poético, o aclamado romancista Daniel Pennac investiga as chaves para o mundo da leitura. Como um romance, um ensaio sensibilÃssimo, mostra que a magia da leitura perde-se quando o livro deixa de ser "vivo" – quando a narração ao pé da cama, na infância, passa a ser a leitura obrigatória do programa escolar. Lendo para seus alunos, Pennac os fez perceber que Dostoiévski, Tolstói, Calvino, GarcÃa Márquez, John Fante, todos, não importando a forma escolhida, contam uma história. Para entendê-la, basta voltar ao despudor da primeira infância, de querer tudo descobrir.
*Resenha publicada originalmente no site Algumas Observações.