Projeto Escrita Criativa Entrevista #1: Lilian Farias
Entrevista #1: Lilian Farias Imagem: Pixabay. |
Olá, escritores!
Hoje iniciamos uma série de entrevistas com autores nacionais aqui no blog do projeto. Nossa intenção é criar um canal aberto entre os novos escritores e estes que já estão trilhando a carreira profissionalmente. Além disso, este também será um espaço para que vocês conheçam o que tem sido escrito pelos contemporâneos. Vamos lá?
Nossa primeira entrevistada é a Lilian Farias, autora dos livros O céu é logo ali e de Mulheres que não sabem chorar. Além de escritora, Lilian é formada em Letras/Português pela UPE — Universidade de Pernambuco —, blogueira literária no Poesia na alma e participante dos movimentos sociais. Como ela mesmo diz: "Amo escrever sobre aquilo que incomoda!".
Projeto Escrita Criativa: Como foi que você começou a escrever? Quando decidiu encarar a escrita como profissão?
Lilian Farias: Comecei a escrever quando fui alfabetizada e tenho vagas recordações de, naquela época, fazer pequenos poemas que depois eu descartava. Minha profissão de escritora começa em 2011.
PEC: Quem são os autores que te influenciam? Eles aparecem de alguma forma na sua obra? Como?
LF: Muitos autores me influenciaram e influenciam, fica difícil citá-los aqui visto a quantidade. No livro O céu é logo ali, há algumas citações de alguns autores que me estimularam na época da escrita. De qualquer maneira, deixo alguns nomes: Clarice Lispector, Elisa Lispector, Machado de Assis, Clarissa Pinkola Estés, Eduardo Galeano, Leonardo Boff, Mario Quintana, Nelson Rodrigues, Jorge Amado, José Saramago, Hilda Hilst, Conceição Evaristo, Miró, Leminsk, Carlos Drummond de Andrade, Elisa Lucinda, etc.
PEC: O que você está lendo no momento? Qual o livro que marcou a sua vida como leitora?
LF: No momento, estou lendo Vermelho Amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós. Todos os livros que li, me marcaram, mas de forma geral, sempre comento do livro Mulheres que correm com os lobos.
PEC: Como é o seu processo de escrita? Você tem alguma rotina/mania ao escrever? Você tem alguma dica de ouro para este momento?
LF: Acho que no processo de escrita é a única coisa que sou romântica, preciso de inspiração, às vezes vem, outras, não. Quando não estou muito inspirada, retorno para o que já foi escrito para tentar reorganizar as ideias. A dica que eu dou é: leia muito. Leia de tudo.
PEC: Como foi para você escrever e publicar seu primeiro livro? Você notou uma grande diferença entre o primeiro e os demais?
LF: O primeiro livro foi algo normal, ainda não me enxergava em minha identidade como escritora, isso demorou um pouco. Mas, quando a pessoa escritora foi se incorporando a mim, em minhas células, vi minha escrita começando a amadurecer, mais orgânica, uma preocupação maior com a estética, etc.
PEC: Como você vê o papel da mulher na literatura, seja como personagem, seja como autora?
LF: Eu acredito que ainda há uma estereotipação e marginalização da mulher que produz literatura, no Brasil. Precisamos pensar e avançar muito nessas questões, pois elas são um reflexo também das questões sociais. O Brasil ainda é um país que valoriza o heteronormativo e eurocêntrico e esquece e marginaliza suas próprias raízes. Essa é uma discussão séria e que não cabe mais o achismo. Deixo aqui um link que traz esse tema como pesquisa para que os leitores possam entender melhor essa realidade: “Perfil do escritor brasileiro não muda desde 1965, diz pesquisa da UnB - Análise de 692 romances de 383 escritores mostra que mais de 70% deles são homens, 90% brancos e pelo menos a metade veio do Rio e de SP”.
PEC: O Brasil é um país em que as pessoas costumam ler pouco. Qual é o papel da comunicação entre escritor e leitor via Internet? Você acredita que essa interação ajude a formar novos leitores?
LF: Olha, eu não sei te dizer se via internet eu consiga estimular alguém a ler, também não recordo de ler pesquisas sobre essa pergunta em específico, porém, eu acredito no corpo a corpo, que é o que eu faço em sala de aula e como educadora social. Na história do Brasil, temos um país de analfabetos e o processo de mediação e estímulo a leitura não surge da noite para o dia. As principais instituições na formação de um ser humano é a família, escola, etc. e se a família nunca teve o hábito de leitura, o processo de mediação e estímulo entre leitura ficará a cargo da escola. Existe uma forte possibilidade que as redes sociais venham contribuindo para formação do leitor no Brasil, mas eu acredito na força da família e escola em conjunto. Quanto a relação dialógica entre leitor e escritor, significa que a pessoa já é leitora, o que pode acontecer é ampliação de horizontes para ambas as partes.
PEC: Como você vê o mercado para os autores nacionais? Quais dicas você daria para o autor que quer ver o seu trabalho publicado?
LF: Esta foi a chamada da notícia que li ontem: “Senador desaconselha Lei que reserva 30% dos espaços em livrarias para autores brasileiros”, acho que isso já diz muito sobre o mercado para o autor nacional e o ônus disso para o país. Para o autor, minha humilde sugestão é que teime. Persista. Não tenha medo. Foque em seus leitores e invista em você o máximo que possível. Participe de concursos e vá até onde o leitor está.
PEC: Qual é a sua opinião sobre os influenciadores digitais? Já fez ou pensou em fazer parceria? Caso a resposta seja sim, como foi a experiência, deu resultado?
LF: Eu entendi influenciadores digitais como blogueiros literários. Acho que faz um bom trabalho e gama desse trabalho é democrática. Foram os principais meios que encontrei para divulgar meu trabalho até o momento.
PEC: Você está trabalhando em um novo projeto? Qual? Você pode nos contar um pouco sobre ele?
LF: Tenho a pretensão de publicar em 2018 um livro de contos (FOME); poesia (Rito Serpente) e um romance (Cassandra). Acho que eles vão surpreender o leitor mais sensível por terem um estilo mais agressivo, crítico e eu joguei muito no texto a ideia do erotismo cru, sem romantismo.
PEC: Deixe o seu recado para os leitores do Projeto Escrita Criativa.
LF: Deixo aqui o trecho de um livro Mulheres que correm com os lobos: "Fico perplexa com o fato de as mulheres hoje em dia chorarem tão pouco e, quando o fazem procuram justificativas. Fico preocupada quando a vergonha ou desabito começam a eliminar uma função natural. Ser uma árvore florida e estar cheia de seiva é essencial, senão você pode se quebrar. Chorar faz bem, e é certo. Chorar não cura o dilema, mas permite que o processo continue em vez de entrar em colapso".
Quer conhecer mais do trabalho da Lilian?
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2 comentários
A Lilian parece ser uma escritora incrível! E aborda temas fora do padrãozinho nacional. Temos que refletir bem qual é o nosso papel na literatura e lutar pelo nosso espaço, ainda temos muito para mudar e tenho certeza que essa é a época certa para uma revolução literária!
ResponderExcluirBeijos :*
Gostaria de refletir sobre os resultados da pesquisa indicada na entrevista. Claro, as mulheres escrevem menos, isso é óbvio demais. Não acredito em machismo NESSE CASO. Nesse momento, estou com mil idéias pulsando, mas era hora de dar banho no pequeno e colocá-lo pra dormir, uma das poucas coisas que, aliás, me dão mais prazer do que a escrita. Daqui a pouco é hora do jantar. Minha família precisa se alimentar, isso é básico, tenho que preparar. Meu esposo está lutando pelo nosso sustento que é também básico. Nós mulheres escrevemos várias outras histórias, cotidianamente, não menos importantes. E quanto a Rio e São Paulo, aí sim, vejo bastante preconceito.
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