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Dicas de Escrita: Como dar os créditos de pesquisa no projeto literário
Recebemos uma pergunta muito interessante na nossa página do Facebook e resolvemos compartilhar as nossas reflexões sobre o assunto por aqui. A dúvida era a seguinte:
Então o cenário é esse: você teve uma ideia muito boa. Depois foi lá, pesquisou, descobriu mais fatos interessantes sobre o assunto e resolveu inseri-los na sua narrativa. Como dar os devidos créditos?
Se o seu texto for não-literário (uma resenha, um artigo, um ensaio, uma dissertação etc.), a resposta é simples: siga as normas ABNT. Elas são chatas, mas funcionam bem. (Se você for perdido, como nós, recomendamos fortemente clicar aqui. Nunca vimos outro site explicar como fazer as referências da ABNT de forma tão didática).
Agora, se o seu texto fizer parte do universo literário, a resposta é outra: na literatura, tudo depende. Não é à toa que o James Wood escolheu como epígrafe do Como Funciona a Ficção, a seguinte citação do Henry James:
Epígrafe do livro Como Funciona a Ficção, de James Wood. |
Fazer literatura é seguir a receita do cuidado. Tudo vai depender do objetivo do escritor com a sua obra e do efeito que ele quer causar em seu leitor. Por isso, não dá para dizer o que é certo e o que é errado. Temos um mundo de infinitas possibilidades pela frente.
Partindo desse princípio, a moderação do Projeto Escrita Criativa pensou em três formas — talvez as três mais comuns — de dar os créditos da pesquisa dentro do projeto literário. Cada uma dela tem as suas vantagens e suas desvantagens, então é importante que o escritor reflita para saber qual é o seu caso escolher a que melhor lhe convém:
1. Se houver um número grande de referências, recomendamos as notas no fim do livro. Na maior parte das vezes, os escritores que optam por essa alternativa o fazem porque é uma maneira prática de dar os créditos da pesquisa do projeto, de alguma citação usada no livro. A vantagem dessa opção é que ela não polui a diagramação da obra e não distrai o leitor da história que é narrada. A desvantagem é que há leitores que ignoram as notas do fim do volume. Normalmente, elas aparecem diagramadas em formato ABNT.
2. Se houver um número pequeno de referências, recomendamos as notas de rodapé. Essas podem ter função de referência ou explicativa. Sobre isso, diz o site da PUC-Rio:
3. Se houver um número pequeno de referências, há a possibilidade de inclui-las dentro do texto, como parte da narração. O escritor que faz esta escolha tem que tomar um pouco de cuidado, porque essa referência se torna algo maior, ela ganha uma função na história narrada, tendo um peso que gera uma expectativa no leitor. O que antes poderia ser apenas uma informação complementar, passa a ser peça importante na história. Um exemplo disso seria:
No trecho acima¹, a leitura de Dom Casmurro gera uma transformação de sentimento nesse personagem, que é importante para a história, pois gera a expectativa de mudança de postura do rapaz em relação à sua namorada. Além disso, notamos que nesse caso, o escritor quis deixar claro que tem uma referência machadiana.
O escritor que opta por este tipo de referência tem que usá-la como recurso pontual. Primeiro, para que o texto não se torne um Frankenstein de referências, cansando o seu leitor. Segundo, porque ele terá que sustentar o porquê de ter inserido tal referência na narrativa e, quanto mais tiver, mais difícil será de dar conta de todas elas.
Independentemente do caminho escolhido pelo autor da história para dar os créditos ao longo da narrativa, é importante que haja consistência na escolha. Misturar as formas pode deixar o leitor confuso e desviar a atenção que ele tinha da narrativa para as referências.
O negócio é "ter o maior cuidado na hora de cozinhar" e seguir em frente!
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¹O exemplo foi inventado pela equipe do projeto para exemplificar o que é dito no post, sendo assim, não foi retirado de nenhuma obra literária.
2. Se houver um número pequeno de referências, recomendamos as notas de rodapé. Essas podem ter função de referência ou explicativa. Sobre isso, diz o site da PUC-Rio:
As notas de rodapé têm a finalidade de prestar esclarecimentos ou inserir no trabalho considerações complementares, cujas inclusões no texto interromperiam a seqüência lógica da leitura. Devem ser reduzidas ao mínimo e aparecer em local tão próximo quanto possível do texto. As notas de rodapé podem ser bibliográficas, utilizadas para indicar a fonte de onde foi tirada uma citação, ou explicativas, utilizadas para apresentar comentários ou observações pessoais do autor, informações obtidas por meio de canais informais.Embora a definição acima seja para trabalhos acadêmicos, as notas de rodapé em textos literários têm a mesma função. O que vale lembrar aqui é que há autores que criam notas de rodapé fictícias — como forma de reafirmar a verossimilhança do texto — e que, assim como acontece com as notas do fim do livro, há leitores que ignoram por completo este tipo de notas durante a leitura do todo.
3. Se houver um número pequeno de referências, há a possibilidade de inclui-las dentro do texto, como parte da narração. O escritor que faz esta escolha tem que tomar um pouco de cuidado, porque essa referência se torna algo maior, ela ganha uma função na história narrada, tendo um peso que gera uma expectativa no leitor. O que antes poderia ser apenas uma informação complementar, passa a ser peça importante na história. Um exemplo disso seria:
"Lembro-me da primeira vez que li Dom Casmurro. A maneira com que Bentinho transformava a Capitu em palavras me despertou para o que vivia com Camila. Foi nas palavras de Machado de Assis que notei que o quanto a minha namorada era dissimulada".
No trecho acima¹, a leitura de Dom Casmurro gera uma transformação de sentimento nesse personagem, que é importante para a história, pois gera a expectativa de mudança de postura do rapaz em relação à sua namorada. Além disso, notamos que nesse caso, o escritor quis deixar claro que tem uma referência machadiana.
O escritor que opta por este tipo de referência tem que usá-la como recurso pontual. Primeiro, para que o texto não se torne um Frankenstein de referências, cansando o seu leitor. Segundo, porque ele terá que sustentar o porquê de ter inserido tal referência na narrativa e, quanto mais tiver, mais difícil será de dar conta de todas elas.
Independentemente do caminho escolhido pelo autor da história para dar os créditos ao longo da narrativa, é importante que haja consistência na escolha. Misturar as formas pode deixar o leitor confuso e desviar a atenção que ele tinha da narrativa para as referências.
O negócio é "ter o maior cuidado na hora de cozinhar" e seguir em frente!
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¹O exemplo foi inventado pela equipe do projeto para exemplificar o que é dito no post, sendo assim, não foi retirado de nenhuma obra literária.
1 comentários
Bacana. Gostei
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