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Dicas de escrita: Como escrever bem, por Umberto Eco

by - junho 09, 2017

Imagem por Pexels, sob licença Creative Commons.
Tradução do artigo publicado em espanhol no site serescritor.com.

La bustina de Minerva” é uma seção assinada por Umberto Eco (1932-2016), que começou a ser publicada em março de 1985, na última página de “Espresso”, primeiro com uma frequência semanal e, a partir de 1988, quinzenal. Muitos dos artigos que foram escritos ali foram compilados em um livro de mesmo nome, publicado pela editora Bompiani, em 2000: trata-se de reflexões sobre o mundo contemporâneo na era da Internet, do papel da imprensa, do destino do livro, das profecias para o terceiro milênio, bem como de alguns contos e uma série de diversão.

Em um deles, Eco reuniu uma série de instruções sobre como escrever bem, utilizando várias fontes procedentes da Internet, sobretudo as famosas Fumblerules de Gramática, que o jornalista William Safite publicou em 1979, no New York Times. Aqui apresentamos suas 40 regras de ouro, traduzidas do texto em italiano. Encontradas no site “Il mistiere de scrivere”, sob o título “Come scrivere bene”, tentamos interpretar com atrevimento o que Eco quis expressar, tratando de pensar no que o autor quer dizer, mesmo que sujeito a erros.


  1. Evite as aliterações (só os "estúpidos" gostam delas);
  2. Não abuse do subjuntivo: utilize-o somente quando for necessário;
  3. Evite as frases feitas como em "a sopa requentada";
  4. Escreva como você se expressa;
  5. Não use jargões nem abreviações;
  6. Lembre-se sempre de que o parenteses (ainda que pareça indispensável) interrompe o raciocínio do discurso;
  7. Não exagere nas reticências;
  8. Não use muitas aspas. As citações não são "elegantes";
  9. Não generalize;
  10. A linguagem hostil não é de bom tom;
  11. Restrinja as citações. Emerson disse com razão: "Odeio as citações. Conte-me apenas o que você sabe.";
  12. As comparações são equivalentes às frases feitas;
  13. Não seja redundante e não repita duas vezes a mesma coisa. Redundância é explicar algo que o leitor já entendeu;
  14. Só os ignorantes usam palavrões;
  15. Tente condensar sempre.
  16. A hipérbole é uma excelente técnica expressiva;
  17. Não construa frases de uma só palavra;
  18. Cuidado com as metáforas que são muito atrevidas. Elas são "plumas sobre as escamas de uma serpente";
  19. Ponha as vírgulas nos lugares adequados;
  20. Aprenda a diferenciar a função do ponto e vírgula e dos dois pontos: não é tarefa fácil;
  21. Se não encontrar o vocabulário ideal, não recorra a expressões populares: "a emenda é pior que o soneto";
  22.  Não use metáforas incoerentes, ainda que elas soem bem. Elas são "cisnes degolados";
  23. As perguntas retóricas são necessárias de verdade?
  24. Seja conciso e tente condensar os seus pensamentos usando o menor número de palavras e evitando frases longas; assim você evitará que o seu discurso fique contaminado (uma das tragédias do nosso tempo, que é dominado pelo poder dos meios de comunicação);
  25. Os acentos não são errados nem inúteis, quem os omite se equivoca;
  26. Não se coloca apóstrofe em um artigo indeterminado antes de um substantivo masculino*;
  27. Não exagere na ênfase! Use o ponto de exclamação com moderação!;
  28. Nem mesmo o escritor mais descolado usa muitos estrangeirismos.**
  29. Escreva corretamente os nomes estrangeiros como os de Baudelaire, Roosevelt, Nietzsche e etc.;
  30. Cite os autores e personagens a quem você se refere sem a perífrase, assim como fez o maior escritor e linguista do século XIX, o autor de El 5 de mayo;
  31. Use a Captatio benevolentiæ no começo do discurso para se insinuar ao leitor (mas é melhor que você não seja ingênuo para entender o que estou dizendo);
  32. Tome muito cuidado com a ortografia;
  33. É importante lembrar as omissões (dizer o que não vai contar) são desesperadoras;
  34. Não use ponto e vírgula frequentemente, apenas quando for necessário;
  35. Não use o plural majestático. Ele causa uma péssima impressão;
  36. Não confunda causa com efeito: você pode se equivocar e cometer um erro;
  37. Não construa frases em que a conclusão vem antes das premissas: se você o fizer, as premissas poderão ser deduzidas a partir das conclusões;
  38. Não use arcaísmos como hápax legomena ou outros lexemas não usuais, assim como estruturas de radicais que superam as habilidades cognitivas do destinatário;
  39. Não seja prolixo, mas também não seja breve.
  40. Cada frase deve ter um significado com contexto independente.

*Sobre o iten 26: ele faz muito sentido no italiano, língua materna do Eco, mas nem tanto em português.
**Adaptamos este item porque pensamos que ele não faz nenhum sentido em português. A versão original que consta no artigo em espanhol é: Ni siquiera los amantes de los barbarismos pluralizan las palabras extranjeras.

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