Dicas de escrita: Como escrever bem, por Umberto Eco
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“La bustina de Minerva” é uma seção assinada por Umberto Eco (1932-2016), que começou a ser publicada em março de 1985, na última página de “Espresso”, primeiro com uma frequência semanal e, a partir de 1988, quinzenal. Muitos dos artigos que foram escritos ali foram compilados em um livro de mesmo nome, publicado pela editora Bompiani, em 2000: trata-se de reflexões sobre o mundo contemporâneo na era da Internet, do papel da imprensa, do destino do livro, das profecias para o terceiro milênio, bem como de alguns contos e uma série de diversão.
Em um deles, Eco reuniu uma série de instruções sobre como escrever bem, utilizando várias fontes procedentes da Internet, sobretudo as famosas Fumblerules de Gramática, que o jornalista William Safite publicou em 1979, no New York Times. Aqui apresentamos suas 40 regras de ouro, traduzidas do texto em italiano. Encontradas no site “Il mistiere de scrivere”, sob o título “Come scrivere bene”, tentamos interpretar com atrevimento o que Eco quis expressar, tratando de pensar no que o autor quer dizer, mesmo que sujeito a erros.
*Sobre o iten 26: ele faz muito sentido no italiano, língua materna do Eco, mas nem tanto em português.
**Adaptamos este item porque pensamos que ele não faz nenhum sentido em português. A versão original que consta no artigo em espanhol é: Ni siquiera los amantes de los barbarismos pluralizan las palabras extranjeras.
Em um deles, Eco reuniu uma série de instruções sobre como escrever bem, utilizando várias fontes procedentes da Internet, sobretudo as famosas Fumblerules de Gramática, que o jornalista William Safite publicou em 1979, no New York Times. Aqui apresentamos suas 40 regras de ouro, traduzidas do texto em italiano. Encontradas no site “Il mistiere de scrivere”, sob o título “Come scrivere bene”, tentamos interpretar com atrevimento o que Eco quis expressar, tratando de pensar no que o autor quer dizer, mesmo que sujeito a erros.
- Evite as aliterações (só os "estúpidos" gostam delas);
- Não abuse do subjuntivo: utilize-o somente quando for necessário;
- Evite as frases feitas como em "a sopa requentada";
- Escreva como você se expressa;
- Não use jargões nem abreviações;
- Lembre-se sempre de que o parenteses (ainda que pareça indispensável) interrompe o raciocínio do discurso;
- Não exagere nas reticências;
- Não use muitas aspas. As citações não são "elegantes";
- Não generalize;
- A linguagem hostil não é de bom tom;
- Restrinja as citações. Emerson disse com razão: "Odeio as citações. Conte-me apenas o que você sabe.";
- As comparações são equivalentes às frases feitas;
- Não seja redundante e não repita duas vezes a mesma coisa. Redundância é explicar algo que o leitor já entendeu;
- Só os ignorantes usam palavrões;
- Tente condensar sempre.
- A hipérbole é uma excelente técnica expressiva;
- Não construa frases de uma só palavra;
- Cuidado com as metáforas que são muito atrevidas. Elas são "plumas sobre as escamas de uma serpente";
- Ponha as vírgulas nos lugares adequados;
- Aprenda a diferenciar a função do ponto e vírgula e dos dois pontos: não é tarefa fácil;
- Se não encontrar o vocabulário ideal, não recorra a expressões populares: "a emenda é pior que o soneto";
- Não use metáforas incoerentes, ainda que elas soem bem. Elas são "cisnes degolados";
- As perguntas retóricas são necessárias de verdade?
- Seja conciso e tente condensar os seus pensamentos usando o menor número de palavras e evitando frases longas; assim você evitará que o seu discurso fique contaminado (uma das tragédias do nosso tempo, que é dominado pelo poder dos meios de comunicação);
- Os acentos não são errados nem inúteis, quem os omite se equivoca;
- Não se coloca apóstrofe em um artigo indeterminado antes de um substantivo masculino*;
- Não exagere na ênfase! Use o ponto de exclamação com moderação!;
- Nem mesmo o escritor mais descolado usa muitos estrangeirismos.**
- Escreva corretamente os nomes estrangeiros como os de Baudelaire, Roosevelt, Nietzsche e etc.;
- Cite os autores e personagens a quem você se refere sem a perífrase, assim como fez o maior escritor e linguista do século XIX, o autor de El 5 de mayo;
- Use a Captatio benevolentiæ no começo do discurso para se insinuar ao leitor (mas é melhor que você não seja ingênuo para entender o que estou dizendo);
- Tome muito cuidado com a ortografia;
- É importante lembrar as omissões (dizer o que não vai contar) são desesperadoras;
- Não use ponto e vírgula frequentemente, apenas quando for necessário;
- Não use o plural majestático. Ele causa uma péssima impressão;
- Não confunda causa com efeito: você pode se equivocar e cometer um erro;
- Não construa frases em que a conclusão vem antes das premissas: se você o fizer, as premissas poderão ser deduzidas a partir das conclusões;
- Não use arcaísmos como hápax legomena ou outros lexemas não usuais, assim como estruturas de radicais que superam as habilidades cognitivas do destinatário;
- Não seja prolixo, mas também não seja breve.
- Cada frase deve ter um significado com contexto independente.
*Sobre o iten 26: ele faz muito sentido no italiano, língua materna do Eco, mas nem tanto em português.
**Adaptamos este item porque pensamos que ele não faz nenhum sentido em português. A versão original que consta no artigo em espanhol é: Ni siquiera los amantes de los barbarismos pluralizan las palabras extranjeras.
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